Há em cada olhar essa magia de viajar até
ao centro da alma, revelando emoções, desabrochando paixões, encurtando mensagens
que se alongam nos segredos, nos meandros submersos da mente. Em cada olhar, há
esse despontar que apenas se torna viçoso àquele que sabiamente interpreta as
emoções, as paixões e os segredos, que decifra mensagens nos subterfúgios da
mente. Só quem sabe contemplar verdadeiramente o mundo tem essa capacidade de
olhar, de entender o que há no outro sem que impere forçosamente o discurso das
palavras, ferindo a autonomia da alma. As emoções são discursos vigorosos e um
olhar vazio pode traduzir mais pensamentos do que todas as bibliotecas no mundo.
Julgar um olhar, um pensamento, uma emoção é uma forma de colonialismo, de
imperializar os seus sentimentos como se balizas fossem, em detrimento da visão
de outros. Só quem já sofreu sabe interpretar um olhar e o que nele se contém,
porque o olhar só se revela sorrateiramente, difuso, sem margem a definições
nem azo a críticas; olhar é também uma forma de amar. Amar é apreender a imagem
que há no outro, sem ferir o seu reflexo.
MARIANO MENDONÇA LOPES
[Extraído da minha obra, As Faces de Maya]
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