sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Poema - A Minha Aldeia

 A Minha Aldeia

Como eu invejo essas pessoas

Que nasceram em aldeias

E partiram para o mundo.

 

A minha aldeia é o mundo,

Pois foi lá que eu nasci

E nunca parti para nenhuma aldeia.

 

Nunca nasci em outra aldeia

Que não fosse o mundo;

Nunca apascentei ovelhas,

Pois os meus rebanhos

Eram as multidões das cidades.

 

Nunca moí farinha

Porque era a terra das cidades

Por onde passei.

Nunca voltei para a minha aldeia

Porque a minha aldeia

É o mundo onde eu nasci.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES 


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Poema - Quando eu morrer, não chores por mim

Quando eu morrer, não chores por mim;

Lembra-te de quem eu era,

Lembra-te que éramos a Primavera

Neste nosso jardim.

 

Quando eu morrer,

Lembra-te, enfim,

Dos nossos sonhos de prazer,

Em que éramos apenas, assim,

Um desejo puro de viver.

 

Quando eu morrer, por fim,

Não chores por quem eu era.

Lembra-te que será sempre Primavera

Naquele nosso jardim.

 

Quando eu morrer, um dia,

Lembra-te que fomos sempre poesia.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Crônica - O que eu vi em 2020...

 O que eu vi em 2020...

 

2020 foi o ano em que as ruas do mundo ficaram desertas, mas onde as casas se encheram de solidariedade. Foi o ano em que percebemos que os profissionais de saúde, de limpeza e os professores valiam mais do que artistas, apresentadores de TV ou jogadores. Onde as mãos que curam valem mais do que as mãos que oram nos templos frios de palavras vazias sem empatia nem solidariedade. 2020 foi o ano em que percebemos a duras penas que estar vivo é muito mais valioso do que aquela promoção pela qual tanto lutámos, o emprego que ferozmente ambicionámos ou o carro dos nossos sonhos e da nossa vida; foi o ano em que constatámos que o mais valioso bem material, a palavra espiritual mais caridosa ou o feito mais avançado de tecnologia nada valem quando comparados ao simples ato de respirar, de estar vivo. Precisamos apenas da solidariedade, de empatia e de fé para acreditarmos num mundo melhor onde nós somos os nossos melhores valores, sem querelas políticas. 2020 foi o ano que nos fez acreditar que o simples ato de respirar é uma felicidade que o Universo nos concede para refletirmos que legado queremos deixar aos nossos filhos. Para alguns, 2020 pode ter sido deveras o primeiro ano da Era de Aquário, pode ter sido o primeiro de muitos anos que nos farão refletir acerca do verdadeiro significado da vida. Seguramente, o ano de 2020 terá sido o derradeiro ano da nossa cupidez materialista, do nosso egoísmo tecnológico, das nossas vaidades niilistas. Gaia, o Planeta Terra, deixa-nos uma forte mensagem: estaremos condenados à extinção da raça humana se nada fizermos pelo planeta. O ano de 2020 foi o ano em que percebemos, se fosse assim tão necessário, que não somos fortes nem invencíveis, que não somos eternos e, principalmente, não somos os melhores em nada. Somos apenas meros mortais, sem importância nem distinção social. Não temos raça, não temos credo, não temos riqueza nem poderio tecnológico outro que nos diferencie uns dos outros. 2020 foi o ano que nos ensinou que somos apenas seres humanos, e só isso: 2020 enterrou a nossa soberba e exumou a nossa fragilidade...

 

Mariano Mendonça Lopes