No banco do jardim onde me sento para relaxar a alma e afrouxar as vicissitudes e maleitas do corpo cansado, observo o rodopio das pessoas anônimas que passam despreocupadamente, das crianças que brincam desalmadamente, dos pássaros intrépidos que afoitamente vêm comer perto das pessoas que lhes dão comida, e constato o riso das pessoas que conversam entre si, e não entendo. Não entendo porque as pessoas riem, não entendo porque as pessoas sorriem umas para as outras. Riem de quê, sorriem porquê? Será isto um ato de presunção, de ironia ou apenas de uma malévola expressão de desprezo?... Não entendo o porquê de as pessoas quererem rir ou sorrir numa foto para eternizar um momento singelo das suas vidas... Será apenas a hipócrita manifestação de uma felicidade fútil e vazia, sem a constância da alegria manifestada deveras nos estados da alma?... Percebo que as pessoas riem e sorriem umas para as outras apenas para colmatar a lacuna existencial que lhes vai na alma, como se procurassem o remédio que vai curar as suas feridas emocionais, desprovidas porém de um conteúdo energético que lhes dê o vigor da alma. Riem porque são fúteis e não entendem o Universo; sorriem porque estão vazias de significado cósmico e perecem na insensibilidade do amanhã.
Vejo-as felizes, mas como podem elas ser felizes
se existe o mundo? Como podem ser felizes, sabendo que há tantas coisas para
aprender que nos fazem infelizes... O conhecimento é uma dor que nos liberta
das outras dores. Mas o sofrimento persiste porque tudo é uma ilusão que nos
faz infelizes, como se alguém jogasse um véu sobre o nosso entendimento das coisas.
Nunca poderemos ser verdadeiramente felizes; ser feliz é ser ignorante acerca
de tudo, é não ter o conhecimento das coisas, o que nos torna infelizes. Somente
seremos felizes quando tivermos concluído esse ciclo de vidas, essa roda de Samsara.
Enfim, quando tivermos evoluído para sermos seres de luz...
[Excerto da minha obra As Faces de Maya, publicado em 2021]
MARIANO MENDONÇA LOPES
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