domingo, 8 de outubro de 2023

Poema - Rumo à Fortaleza

 Rumo à Fortaleza

 

Quisera eu morrer neste dia,

Para renascer um dia depois.

Para a vida ser uma passagem...

 

Sabes, o tempo morreu...

As aves debandaram,

O céu escureceu.

 

O cheiro da roça e da senzala,

O vento levou.

O ambiente do mar, a cor da impala,

Tudo se apagou.

 

Quisera eu dormir

Neste dia ruim

Só para poder fluir,

Só para conseguir um fim.

 

Tudo isso é dor, me dá dó,

As lembranças de ser criança,

Quando brincava com a minha avó,

Quando ainda tinha esperança.

 

Quando tudo era felicidade,

Existir em tenra idade.

Tudo era vida, liberdade,

Tudo era brincadeira ao fim da tarde.

 

Quisera eu dormir neste dia,

Para não ter que acordar,

Mais tarde.

 

E as impressões que trago na vida

Falam de cor, falam de beleza,

Falam de uma alegria bem vivida,

Do Porto, da Ilha e da Fortaleza.

 

Tudo isso passou e não tem idade.

Tudo isso é dor para mim.

Em tempos, conheci a liberdade,

Mas hoje tudo chegou ao fim.

 

De lá para cá, só a dor,

Só a ausência, só a tormenta

Têm ocupado o lugar do amor,

Do riso que não mais se experimenta.

 

Hoje, trago na alma fragmentos

Do que fui em tenra idade;

Lembro de todos esses momentos

Em que viver era felicidade.

 

Hoje, sou resquícios do que fui;

Hoje, sou apenas pálida imagem.

Mas tudo na vida flui.

Tudo na vida é uma passagem...

 

[26.08.1974]

MARIANO MENDONÇA LOPES

 

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