AURA MÍSTICA
Questione sempre
os seus conceitos, relativize as suas ideias. O mundo não é imutável nem está
morto, não obedece a meras ideias mecânicas nem se restringe a propósitos
deterministas. Tudo está interligado: eu, o planeta, o sistema solar, a
galáxia, as constelações e o espaço profundo, a matéria cinzenta, o
espaço-tempo...
Passado e futuro
intercambiam auras de sentimentos no nosso corpo e na nossa mente, da mesma
forma que despertam na alma novas formas de conhecimento, constantemente
aprimoradas em função das experiências que vamos tendo, num perpétuo
crescimento espiritual que se revigora nos ciclos da Samsara onde, através do
conhecimento nos vamos livrando da dor, nos vamos libertando de tudo aquilo que
nos prende à materialidade deste plano dimensional. A morte é apenas uma
passagem para outros planos dimensionais onde disporemos da oportunidade de
aprendermos a ser mais puros, a existirmos em mais plenitude com as leis
cósmicas, elevando a nossa alma.
Ainda que mera
embalagem corpórea e materializada nesta dimensão, o corpo é o veículo que
permite que a nossa mente se comunique com a alma, e vice-versa, para que este
intercâmbio de conhecimentos e de sensações seja profícuo, seja intenso. Neste
plano dimensional, o corpo é a nossa casa, o lar da alma; a nós nos compete
deixá-lo arrumado e organizado, limpo e arejado como fazemos com a nossa casa,
o nosso lar. Não sabemos que materialização corpórea, caso haja, existe em
outros planos dimensionais. A alma faz uso de todas as formas de expressão corporal;
por isso, para a aquisição dos conhecimentos que nos trarão a devida elevação
espiritual, importa o exercício consciente e elevado de todos os sentidos,
incluindo os sentidos ocultos e que só a mente nos permite atingir. O exercício
de todos os sentidos em todas as expressões da vida é importante, é fundamental
para se adquirir essa elevação espiritual, que não é só matéria, é também
expressão sensorial para adquirirmos as experiências na vida que, positivas ou
negativas, nos aportarão os devidos conhecimentos.
Não existem boas
nem más experiências; existem experiências. Experiências que nos aportam
conhecimentos que serão benéficos para a nossa elevação, ao passo que existem
outros que não nos agregam a devida compreensão para as coisas do Universo.
Como em nossas casas, vamos atualizando conhecimentos, trocando uns por outros
mais avançados. Mas todas as experiências nos trazem conhecimentos que devemos
compreender e assimilar, partindo do princípio que em tudo o que fazemos há uma
verdade cósmica. Tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos replica no Universo
que nos retribui com maior intensidade. Todos os pensamentos que orbitarem em
torno da elevação da nossa alma são pensamentos positivos; todos os pensamos
que inculcarmos de forma perniciosa e danosa à nossa alma, são pensamentos
negativos que devem ser substituídos por pensamentos positivos. Pensamentos não
se apagam; simplesmente são substituídos por outros, como os móveis e objetos
de decoração da nossa casa.
Não devemos nos
negar a qualquer tipo de experiência nem enjeitar qualquer tipo de obtenção de
conhecimentos, pois que isto, de alguma forma, nos eleva perpetuamente no plano
da purificação espiritual. Além disso, a pureza espiritual passa
invariavelmente pela limpeza material, já que o corpo enquanto lar da alma
impõe também um comportamento material, portanto, precisamos adquirir hábitos
que nos tragam a paz interior, a sensação de realização e o desejo de querermos
saber mais. Isso é o estado de felicidade que, quando reverbera para o
Universo, nos traz fluxos intensos e energéticos que revigoram o corpo e se
transmitem à alma, elevando a nossa condição. A mente é o nosso portal de
comunicação entre o corpo, o Universo e a alma; através da glândula pineal, se
transmitem as experiências físicas e corpóreas à mente que, por sua vez, as
replica ao Universo e à alma, num exercício etéreo da eternidade que nos
vincula sempre ao Universo, o nosso pó cósmico de onde viemos e para onde
voltaremos, porque também o nosso corpo é feito de matéria cósmica de antigas
estrelas e planetas que nasceram, cresceram e morreram e cujas cinzas cósmicas
se espalharam pelo Universo até chegarem a nós.
Só através da
mente teremos a condição de interpretar os sentidos, as experiências e os
conhecimentos então adquiridos. Assim, o que devemos é sempre ter em vista que
as experiências que tivemos na existência ou que ainda viermos a ter são sempre
movimentos energéticos de fluxo etéreo que o Universo nos manda, na justa e
exata medida e proporção daquilo que os nossos sentimentos externarem nesse
exato momento. A mudança que propomos na nossa existência começa
invariavelmente por uma consciência interior de que somos mais do que
efetivamente somos levados a crer que somos e de que devemos atualizar os
nossos sentimentos para buscarmos obter essa mudança que só é alcançada através
das experiências sensoriais, através das diferentes formas de percepção que temos
ao longo da vida. Tudo é conhecimento ou forma de se atingir o conhecimento; o
prazer físico é uma forma de conhecimento, porquanto nos permite, através das
sensações, adquirir novos conceitos, novas ideias. O prazer adquirido através
das sensações é uma importante via de acesso ao conhecimento e, por sua vez, à
elevação espiritual que queremos para a nossa alma, o nosso verdadeiro Eu.
Algumas pessoas
logram obter essa elevação em uma única existência, no mesmo plano dimensional;
outras precisam de várias existências ou planos dimensionais para alcançarem o
ciclo completo, a roda de Samsara, e se libertarem da dor, condição inevitável para
elevar a alma ao nível do Nirvana. O que é importante é sempre lutarmos, jamais
desistirmos, para que as experiências que tivermos ao longo da vida ajam sempre
em prol da nossa aura mística com a qual nos comunicamos com o Universo.
A dor não é
sempre física, também pode ser espiritual. Sempre que recusamos aprender,
sempre que recusamos adquirir um conhecimento, forma-se um bloqueio espiritual
que é uma forma de dor que vai nos acompanhar nesta e em outras existências. E
toda a vez que exercemos uma postura negativa em relação a alguma forma de
conhecimento, por mais ténue ou dúbia que seja, replicamos ao Universo essa
forma de clausura interior e espiritual, o qual por sua vez reverbera sobre o
plano do tempo-espaço, exercendo uma pressão sobre o mesmo de forma física. É
então quando as coisas negativas acontecem com o nosso corpo, com o nosso
ambiente, com as pessoas ao nosso redor.
MARIANO MENDONÇA LOPES [Excerto do meu romance, As Faces de Maya, publicado em 2022]