Travessias
O silêncio de uma
porta ausente
É o meu acesso à
escuridão
De uma ombreira
que não se sente,
De uma sombra
que vaga sem imensidão.
A sombra
esvai-se no chão, perdida,
E o meu olhar não
tem contemplação.
Fica ausente à
espera de vida,
Erra como todos,
sem consolação.
A frieza do
quarto fechado
É a agonia de
viver dentro de mim;
Na ombreira da
vida, tudo é passado,
Na sombra sem
porta, tudo é fim.
A ambivalência que
me trouxe aqui
É uma dualidade
sem sentido,
O sentido que em
mim jamais senti
Porque a minha
dor era por ter vivido.
Na ausência do
mundo que conheci
Só a sombra alcançou
o porvir,
Mão aberta a que
nunca estendi,
Olhar incerto
pelo que há de vir.
Perco o presente
sem ter o futuro,
A porta que se
abre nunca existiu.
Um passado
sombrio e inseguro,
Uma sombra fugaz
que desistiu.
É uma porta que
se fecha para a vida,
É uma ombreira
vã, sem coragem.
Numa manhã
incerta, sem despedida,
Numa manhã
deserta, sem paisagem.
O silêncio da
porta cruzou eras,
A sombra desvaneceu-se
em fantasias,
Num tempo que
ficou ausente, deveras,
Na lembrança apagada
de outras travessias.
MARIANO MENDONÇA LOPES