domingo, 4 de agosto de 2019

Poema - Cais do Império

CAIS DO IMPÉRIO
 
Há sentimentos estrangeiros
Se jogando contra o cais
Lançando promessas, soltando desejos
Como quem inventa sonhos derradeiros
E invoca vontades sobrenaturais
Com orações mundanas, naturais festejos.
 
Há impressões de vidas estrangeiras
Se colorindo de ideias na Cidade
E, quem diria, vencem e se vingam.
Como quem ama, são almas brasileiras,
Movimentos africanos, luzes sem idade,
Negócios da China, que significam?
 
E, como que juntos num só destino,
Fazem de Lisboa um universo pequenino.
 
A minha alma é um rosto tropical
Que se desenha contra as palmeiras
Balançando com saudade, com o ritmo sensual
E a ginga sedutora das danças brasileiras.
 
Há sentimentos meus que são humanos
E há emoções minhas, deveras pessoais,
Que brotam ao passear pelas ruas da Cidade;
Navegam noutros mundos, exóticos oceanos
Que trazem especiarias e o balanço dos coqueirais
Depositando em mim o dom da ubiquidade.
 
Estou em Lisboa, estou no Universo,
Não tenho espaço, não tenho tempo.
Tenho apenas o ritmo único do verso
E a pulsação métrica deste sentimento.
 
E no cais vivem arvorados
Pensamentos distantes voltando agora,
Luzes infinitas de muitos passados
Quando a memória navegava outrora
Em sentimentos estrangeiros ora ancorados.


MARIANO MENDONÇA LOPES [Extraído da minha obra, PEREGRINAÇÕES]

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