Às vezes é bom andar
devagar na vida. Viver é convidar o presente e despedir o passado. Deixar
levantar a poeira que se desprende do passado, que faz ressurgir no presente as
tênues lembranças dos momentos em que, outrora, vivíamos felizes na inocência dos
sentidos fáceis da vida, dos pensamentos imediatos para descrever os
acontecimentos, das palavras que se buscavam para colorir os momentos, para
inventar as brincadeiras, construindo mundos onde havia apenas a brisa dos
tempos, construindo personagens históricas onde havia apenas a imaginação dos
amigos e, quantas vezes, apenas a nossa presença... Às vezes, é bom andar
devagar no tempo. Sussurrar ao vento a companhia agradável de estar só,
mergulhar despido na onda do mar que nos traz a realidade azul, celebrar a vida
no canto das aves, na brisa que cutuca a copa das árvores, observando a
imensidão do céu, do sonho, e do tempo que anda devagar. Às vezes é bom andar,
devagar na vida e parando no tempo só para descobrir que há um instante de vida
a viver de cada vez, em cada passo, em cada despedida.
Na senda da vida, o
sucesso não se constrói só com vitórias. As derrotas são como balizas para nos
orientarem de volta ao caminho correto, sem altivez nem soberba, apenas uma
augusta humildade. Não existem insucessos, o que existe mesmo são fracassos,
sem meias-verdades nem desculpas. Errar, avaliar e ponderar o erro, esse é o
caminho para se aprender. Não há outra forma de chegarmos à perfeição, senão
experimentando o gosto amargo e adstringente do fracasso e nos lembrarmos de
que todos os dias temos sempre muito a aprender na vida e a aprendermos conosco
próprios.
A felicidade é um estado
de equilíbrio e, para que tal exista, é necessário que as expectativas que
temos em relação à vida sejam equivalentes aos resultados reais que obtemos com
as nossas ações. Se nada fizermos em relação à mudança nos nossos
comportamentos e hábitos, nada obteremos como resultado. Com isso, haverá
sempre um desequilíbrio que é o estado de não felicidade.
Tudo isso traz em nós a
percepção do movimento, de um fluxo material da alma através de um percurso
espiritual de distintos planos existenciais no qual existimos, no qual
evoluímos o nosso karma. Todo este ciclo evolutivo da alma em diferentes
percepções materiais induz ao conhecimento interior e, em última análise, à
transmigração em diferentes reinos e se designa por Samsara, o ciclo de
nascimento, morte e renascimento da consciência e da alma, sob a vertente da
impermanência, do desassossego e da ausência de identidade do karma. Na busca
pela ausência do sofrimento que nos conduz ao Nirvana, a roda de Samsara
contempla seis fases, ou caminhos, pelos quais o karma deverá passar: Deva,
Asura, Manusya, fase animal, fase preta, e Naraka, o lado mais obscuro.
MARIANO MENDONÇA LOPES [Trecho da minha obra, As Faces de Maya]
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