domingo, 22 de setembro de 2024

Poema - Incontidos Desejos

 

Incontidos desejos,

Augusta paixão

Em versos altaneiros

De uma obsessiva sedução.

 

Impulsos derradeiros

De uma arrebatadora emoção,

Faço em mim verdadeiros

O sonho ou a elucubração

 

Que é viver em perpétuo sentimento

De uma vida que beira a realidade,

Mas não passa de um mero momento,

 

Do êxtase da efemeridade.

E sonho que não existe em mim o Tempo,

Que sou apenas abstrata felicidade.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

 

domingo, 25 de agosto de 2024

Poema - Desencarne

Desencarne

 

Nas margens do meu tempo,

As ilusões vagam,

Libertas de qualquer obrigação,

 

Sem estarem sujeitas a qualquer contratempo

Que porventura tragam

A essa sua condição.

 

Há dimensões que não se alcançam

Senão pelo sonho ou pelo desencarne;

Há noites que não viram dia.

 

Sonhos são almas que se amansam

No travo violento da tempestade

Que o viver traz e agonia.

 

Nas margens da minha existência,

Há sonhos que divagam

As marcas do meu ser;

 

Vivo com a absoluta consciência

De que as experiências marcam

O que em outra vida eu vou ser.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

domingo, 18 de agosto de 2024

Crônica - 1994-2024 - Reflexões sobre uma vida no Brsil

 1994-2024 – Reflexões sobre uma vida no Brasil

 

Foi em 1994 que eu decidi morar no Brasil (com uma breve pausa em 1995 em Portugal), mais particularmente, na deslumbrante e sempre cativante cidade do Recife. “Decidi” não é a palavra que melhor descreve os meus sentimentos de outrora; eu apenas pretendia passar alguns anos aqui, desfrutando os conhecimentos do meu Bacharelato em Turismo conquistado pouco tempo antes, antes de rumar para outros destinos ensolarados espalhados mundo afora. Mas não foi isso que aconteceu, a vida sempre se escreveu certa para mim por linhas incertas. Eu era um jovem sonhador, prenhe de ideias e projetos de mudar a minha vida e que, aos poucos, acabei realizando, num cunho pessoal de realização pessoal e profissional. Conquistei tudo o que eu queria, cheguei mais além do que sonhei e obtive da vida mais do que eu havia pedido.

 

O Recife que eu conheci era alegre e espontâneo, respirava alegria que a todos contagiava, principalmente os turistas loucos por esse frenesim, pelo frevo e maracatu, pelo coco gelado e doce na beira-mar, pela brisa quente que respirava tropicalidade no final da tarde, pelo gingado e malemolência das pernambucanas; havia (muita) pobreza e prédios degradados, sim havia, mas havia alegria e festa. Havia o Carnaval em Boa Viagem e Olinda, mas também o ReciFolia em outubro. Recife era festa e alegria o ano inteiro e viver no Recife era experimentar a sempiterna sensação de felicidade, a festa da vida.

 

Os domingos eram inevitavelmente “recheados” com programas televisivos que os brasileiros assistiam ávida e compulsivamente; Hebe Camargo, Jô Soares, Gugu Liberato, o Fantástico e, o maior de todos, Sílvio Santos que agora se despediu de nós. E havia Senna para alegrar dominicalmente o coração dos brasileiros. Nem vou falar da seleção brasileira...

 

O tempo foi passando, indelével e inexoravelmente. Não vejo mais a alegria espontânea na capital de Pernambuco, como também não encontro mais essa ávida sensação de viver a vida de uma forma impensada, livre e absoluta. Percebo que as pessoas hoje carregam em seu semblante sisudo uma preocupação que antes era latente, mas hoje evidente; o churrasco do final de semana era garantido, independentemente da condição financeira, assim como a confraternização, a conversa demorada sobre banalidades. E, ao cabo de 30 anos (sim, trinta anos) me apercebo que o mundo mudou muito, muito mesmo, mas que as gerações atuais, como as das minhas filhas, não dispõem mais de uma referência válida para perceber essa transição e refletir em como isso afeta as suas vidas. E isso é preocupante porque as pessoas não conseguem aferir de uma forma exata a evolução e a transformação da Humanidade. O ataque às Torres Gêmeas em 2001, a crise financeira de 2008 e, mais recentemente, a pandemia e o confinamento ditaram rumos inquisitoriais a uma Humanidade que antes ainda desfrutava dos primores ressurgidos dos anos 60 e 70, a despeito de todas as calamidades e catástrofes. O mundo de hoje cristalizou ideias e pensamentos, não abundam mais, por exemplo, os ideais hippies da época em que eu nasci nem as extrovertidas realidades dos anos 80, saídas de uma Guerra Fria então sanada com o fim da União Soviética. O mundo transita de uma forma insensata para uma ditadura global de costumes e pensamentos medievais. As pessoas carregam traumas e disforias, discursos solilóquios em perturbantes estados de insatisfação e frustração e as sociedades se tornam cobertas de retalhos psicóticos que impedem o individuo de enxergar a sua própria individualidade e criatividade, preso a um contexto global de opressão moral e ideológica; é a realidade de “1984” de George Orwell e de “Farenheit 451” de Ray Bradbury posta em prática.

 

Quando eu nasci, o mundo estava dividido em dois blocos, o Ocidente ou NATO (OTAN) e o Pacto de Varsóvia liderado pela então União Soviética, fruto de dois devastadores conflitos bélicos que para sempre redefiniram a Humanidade. Mas havia uma liberdade de pensamento e de crítica epistemológica e existencial que não havia sido ainda contagiada pela Internet, pela Inteligência Artificial nem tampouco pelas fake news; com o tempo, a História encarregou-se de demonstrar qual lado era mais livre e democrático, e foi nessa década de 90 que, sob os auspícios de uma emergente felicidade global pós Guerra Fria, eu cheguei ao Recife, jovem sonhador.

 

Ao cabo de quase seis décadas de vida (como o tempo passa...), ainda sou aquele jovem sonhador, prenhe de ideias e projetos pessoais e profissionais. Enquanto vivo eu for, manterei vividamente acesa a chama da vida porque eu adoro viver. Mas me preocupo com o mundo que deixarei para as minhas filhas quando eu partir. Não será infelizmente o mesmo mundo que me acolheu naquele “Verão do amor” em que cheguei a este planeta em 1967. Também percebo que não existem mais as referências que eu tinha do mundo e que me fizeram crescer de forma holística; os meus heróis foram morrendo, não de overdose, mas de uma existência brilhante e pautada pelo exemplo. As referências mediáticas que eu tinha também não lograram ser substituídas a contento. Enfim, sinto que o mundo hoje não está melhor, apenas diferente. A quem bradarão os sinos, por quais ideais e conceitos viveremos então? Às vezes, eu queria voltar no tempo...

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Poesia: Impressões do Mar - divulgação

 Impressões do Mar

Gênero: Poesia

Poesia e prosa poética


O que pode unir três locais tão díspares como Recife, Lisboa e Luanda, triângulo insinuante que interliga três continentes, três realidades tão distintas entre si? Que impressões se estabelecem no íntimo e na visão de quem as viveu de forma tão intensa?

 

Em Impressões do Mar, o autor fala-nos da sua visão do mar, descrevendo em Mar de Fora as suas experiências objetivas, como sua vida à beira-mar, em mergulhos e passeios de cruzeiros, ao mesmo tempo em que faz uma viagem introspectiva em Mar de Dentro, narrando as suas impressões, anseios e perspectivas moldadas pela presença do mar na sua vida.

 

                         

                                                                

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Clube do Autor:

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Dedico este livro à minha mulher Karina, a eterna companheira da minha vida e inspiradora dos meus pensamentos, porque a cumplicidade dos sentimentos é o fermento do amor.

Romance: As Faces de Maya - divulgação

 AS FACES DE MAYA

Gênero: Romance

Tema: Romance/Esotérico/História/Religião/Filosofia

 

SINOPSE

As Faces de Maya é uma obra de ficção, baseada em fatos históricos e geográficos majoritariamente reais, cujos capítulos se estruturam de acordo com a Árvore da Vida cabalística, abordando temas relacionados com a História, a Filosofia e a Religião. Maya é um conceito hinduísta que nos fala sobre a ilusão das coisas e de como podemos ter a percepção plena da realidade de acordo com o nosso entendimento e a nossa sensibilidade; em As Faces de Maya, as diversas experiências místicas vividas pelas personagens mostram que tudo na vida é uma ilusão, mas também uma digressão no plano espiritual e metafísico que leva a um autoconhecimento profundo de si mesmo e à percepção de que tudo se interliga no passado e no presente em permanente evolução espiritual.

 


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domingo, 21 de abril de 2024

Romance - As Faces de Maya

 AURA MÍSTICA

Questione sempre os seus conceitos, relativize as suas ideias. O mundo não é imutável nem está morto, não obedece a meras ideias mecânicas nem se restringe a propósitos deterministas. Tudo está interligado: eu, o planeta, o sistema solar, a galáxia, as constelações e o espaço profundo, a matéria cinzenta, o espaço-tempo...

Passado e futuro intercambiam auras de sentimentos no nosso corpo e na nossa mente, da mesma forma que despertam na alma novas formas de conhecimento, constantemente aprimoradas em função das experiências que vamos tendo, num perpétuo crescimento espiritual que se revigora nos ciclos da Samsara onde, através do conhecimento nos vamos livrando da dor, nos vamos libertando de tudo aquilo que nos prende à materialidade deste plano dimensional. A morte é apenas uma passagem para outros planos dimensionais onde disporemos da oportunidade de aprendermos a ser mais puros, a existirmos em mais plenitude com as leis cósmicas, elevando a nossa alma.


Ainda que mera embalagem corpórea e materializada nesta dimensão, o corpo é o veículo que permite que a nossa mente se comunique com a alma, e vice-versa, para que este intercâmbio de conhecimentos e de sensações seja profícuo, seja intenso. Neste plano dimensional, o corpo é a nossa casa, o lar da alma; a nós nos compete deixá-lo arrumado e organizado, limpo e arejado como fazemos com a nossa casa, o nosso lar. Não sabemos que materialização corpórea, caso haja, existe em outros planos dimensionais. A alma faz uso de todas as formas de expressão corporal; por isso, para a aquisição dos conhecimentos que nos trarão a devida elevação espiritual, importa o exercício consciente e elevado de todos os sentidos, incluindo os sentidos ocultos e que só a mente nos permite atingir. O exercício de todos os sentidos em todas as expressões da vida é importante, é fundamental para se adquirir essa elevação espiritual, que não é só matéria, é também expressão sensorial para adquirirmos as experiências na vida que, positivas ou negativas, nos aportarão os devidos conhecimentos.

 

Não existem boas nem más experiências; existem experiências. Experiências que nos aportam conhecimentos que serão benéficos para a nossa elevação, ao passo que existem outros que não nos agregam a devida compreensão para as coisas do Universo. Como em nossas casas, vamos atualizando conhecimentos, trocando uns por outros mais avançados. Mas todas as experiências nos trazem conhecimentos que devemos compreender e assimilar, partindo do princípio que em tudo o que fazemos há uma verdade cósmica. Tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos replica no Universo que nos retribui com maior intensidade. Todos os pensamentos que orbitarem em torno da elevação da nossa alma são pensamentos positivos; todos os pensamos que inculcarmos de forma perniciosa e danosa à nossa alma, são pensamentos negativos que devem ser substituídos por pensamentos positivos. Pensamentos não se apagam; simplesmente são substituídos por outros, como os móveis e objetos de decoração da nossa casa.

 

Não devemos nos negar a qualquer tipo de experiência nem enjeitar qualquer tipo de obtenção de conhecimentos, pois que isto, de alguma forma, nos eleva perpetuamente no plano da purificação espiritual. Além disso, a pureza espiritual passa invariavelmente pela limpeza material, já que o corpo enquanto lar da alma impõe também um comportamento material, portanto, precisamos adquirir hábitos que nos tragam a paz interior, a sensação de realização e o desejo de querermos saber mais. Isso é o estado de felicidade que, quando reverbera para o Universo, nos traz fluxos intensos e energéticos que revigoram o corpo e se transmitem à alma, elevando a nossa condição. A mente é o nosso portal de comunicação entre o corpo, o Universo e a alma; através da glândula pineal, se transmitem as experiências físicas e corpóreas à mente que, por sua vez, as replica ao Universo e à alma, num exercício etéreo da eternidade que nos vincula sempre ao Universo, o nosso pó cósmico de onde viemos e para onde voltaremos, porque também o nosso corpo é feito de matéria cósmica de antigas estrelas e planetas que nasceram, cresceram e morreram e cujas cinzas cósmicas se espalharam pelo Universo até chegarem a nós.

 

Só através da mente teremos a condição de interpretar os sentidos, as experiências e os conhecimentos então adquiridos. Assim, o que devemos é sempre ter em vista que as experiências que tivemos na existência ou que ainda viermos a ter são sempre movimentos energéticos de fluxo etéreo que o Universo nos manda, na justa e exata medida e proporção daquilo que os nossos sentimentos externarem nesse exato momento. A mudança que propomos na nossa existência começa invariavelmente por uma consciência interior de que somos mais do que efetivamente somos levados a crer que somos e de que devemos atualizar os nossos sentimentos para buscarmos obter essa mudança que só é alcançada através das experiências sensoriais, através das diferentes formas de percepção que temos ao longo da vida. Tudo é conhecimento ou forma de se atingir o conhecimento; o prazer físico é uma forma de conhecimento, porquanto nos permite, através das sensações, adquirir novos conceitos, novas ideias. O prazer adquirido através das sensações é uma importante via de acesso ao conhecimento e, por sua vez, à elevação espiritual que queremos para a nossa alma, o nosso verdadeiro Eu.

 

Algumas pessoas logram obter essa elevação em uma única existência, no mesmo plano dimensional; outras precisam de várias existências ou planos dimensionais para alcançarem o ciclo completo, a roda de Samsara, e se libertarem da dor, condição inevitável para elevar a alma ao nível do Nirvana. O que é importante é sempre lutarmos, jamais desistirmos, para que as experiências que tivermos ao longo da vida ajam sempre em prol da nossa aura mística com a qual nos comunicamos com o Universo.

 

A dor não é sempre física, também pode ser espiritual. Sempre que recusamos aprender, sempre que recusamos adquirir um conhecimento, forma-se um bloqueio espiritual que é uma forma de dor que vai nos acompanhar nesta e em outras existências. E toda a vez que exercemos uma postura negativa em relação a alguma forma de conhecimento, por mais ténue ou dúbia que seja, replicamos ao Universo essa forma de clausura interior e espiritual, o qual por sua vez reverbera sobre o plano do tempo-espaço, exercendo uma pressão sobre o mesmo de forma física. É então quando as coisas negativas acontecem com o nosso corpo, com o nosso ambiente, com as pessoas ao nosso redor.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES [Excerto do meu romance, As Faces de Maya, publicado em 2022]

 

Poema - Dispo-me no tempo deserto

  

Dispo-me no tempo deserto

Com a roupa da minha vida.

Eu sou uma alma despida

Que caminha com passo incerto.

 

Caminho sem destino mas com vontade

Rumo a um futuro que desconheço.

Há um crepúsculo onde amanheço

Impressões de viver em liberdade.

 

Dizem-me as aves à minha volta

Que ainda dá tempo de partir,

Que a minha vida ainda está solta.

 

Sei lá, sinto que não dá mais,

Sinto que a minha vida se deixou consumir

Por um acúmulo de pensamentos sentimentais.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Poema - Alma Minha


 Alma Minha

 

Tu és o silêncio do meu olhar,

Um olhar tão profundo

Que desconhece as palavras.

 

Tu és eu existir acordado

Num sono profundo de conhecimento.

Quando eu te olho, eu me vejo

Refletindo em mim essa alma

Que brota da consciência.

 

Sonho acordado a última alvorada

Em que serei uma nova vida.

Minha alma, minha alma,

Para onde vamos?...

 

Para onde partiremos depois,

Depois que eu devolver o corpo

À Terra que o viu nascer?...

 

Viajaremos juntos nessa jornada

De volta às estrelas

De onde viemos, um dia...

 

Partiremos no último trem da vida

Até que o Universo nos contemple.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

 

domingo, 3 de março de 2024

Poema - Noturno Silêncio

Noturno Silêncio

 

É no silêncio das palavras,

Daquilo que não foi dito,

Que eu escuto a tua voz

A murmurar os pensamentos

Que transbordam do coração.

 

No silêncio que fica entre nós

Há a percepção dos sentidos

Que nos faz amar.

Sem sentir, sem olhar...

 

E entre nós há um mundo

Que rodopia de ansiedade,

Como se o nosso amor

Fosse a batuta dos sentimentos

Que contagiam o mundo.

 

Foi só um instante em nossas vidas,

Mas o amor fez dele infinito

E imortal, nesta noite.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

domingo, 15 de outubro de 2023

DIA 15.10.2023 - Dia do Professor

15.10.2023 - Dia do Professor


DEDICATÓRIAS E AGRADECIMENTOS

Gostaria em primeiro lugar de agradecer a todos os professores da minha vida, a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram com a sua sabedoria e a sua paciência para a minha formação, que acreditaram sempre no meu potencial e que eu poderia ser algo mais do que eu próprio conseguia enxergar. Sem esse conhecimento, sem esse esclarecimento, eu nunca teria chegado aonde cheguei nem teria sido o que tenho conseguido ser.


Gostaria de agradecer aos meus pais, os meus primeiros formadores e que me trouxeram a este mundo, propiciando as condições e as faculdades para que eu pudesse crescer e conhecer. E à minha esposa, Karina, pelo apoio dado para que este primeiro livro saísse do papel.


 [Dedicatória do meu livro Impressões do Mar - 2014]

MARIANO MENDONÇA LOPES

sábado, 14 de outubro de 2023

Poema - Penumbras

 Penumbras


Deixo no meu olhar

Uma vaga impressão de existir.

Sinto que estou prestes a viajar,

Mas sem nunca deveras partir.

 

Sinto nessa imensidão do olhar

Uma singela e angustiada miopia

De quem jamais ousou sonhar

Que tudo ficaria melhor, um dia.

 

E, por haver assim rejeitado

Tal quimérica utopia,

Deixei de ter desejado

 

Que, um dia, a minha alma partia

Para um local nunca antes sonhado

E que, no meu olhar, apenas se sentia.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

domingo, 8 de outubro de 2023

Poema - Rumo à Fortaleza

 Rumo à Fortaleza

 

Quisera eu morrer neste dia,

Para renascer um dia depois.

Para a vida ser uma passagem...

 

Sabes, o tempo morreu...

As aves debandaram,

O céu escureceu.

 

O cheiro da roça e da senzala,

O vento levou.

O ambiente do mar, a cor da impala,

Tudo se apagou.

 

Quisera eu dormir

Neste dia ruim

Só para poder fluir,

Só para conseguir um fim.

 

Tudo isso é dor, me dá dó,

As lembranças de ser criança,

Quando brincava com a minha avó,

Quando ainda tinha esperança.

 

Quando tudo era felicidade,

Existir em tenra idade.

Tudo era vida, liberdade,

Tudo era brincadeira ao fim da tarde.

 

Quisera eu dormir neste dia,

Para não ter que acordar,

Mais tarde.

 

E as impressões que trago na vida

Falam de cor, falam de beleza,

Falam de uma alegria bem vivida,

Do Porto, da Ilha e da Fortaleza.

 

Tudo isso passou e não tem idade.

Tudo isso é dor para mim.

Em tempos, conheci a liberdade,

Mas hoje tudo chegou ao fim.

 

De lá para cá, só a dor,

Só a ausência, só a tormenta

Têm ocupado o lugar do amor,

Do riso que não mais se experimenta.

 

Hoje, trago na alma fragmentos

Do que fui em tenra idade;

Lembro de todos esses momentos

Em que viver era felicidade.

 

Hoje, sou resquícios do que fui;

Hoje, sou apenas pálida imagem.

Mas tudo na vida flui.

Tudo na vida é uma passagem...

 

[26.08.1974]

MARIANO MENDONÇA LOPES

 

Poema - Andorinhas

  

Andorinhas

 

Da janela do meu destino

Eu vejo andorinhas

Que não me trazem o Verão.

 

Vejo como vêm vindo,

Parecem perdidas, sozinhas,

Enfrentando juntas a solidão.

 

Da porta do meu passado,

Emergem sombras ocultas

Pelas memórias esquecidas.

 

No alpendre da vida, tudo acabado,

Saudades há e são muitas,

Dispersas ao longo da vida.

 

No telhado onde me encontro

Observo as estrelas, extasiado,

Como se quisesse chegar até elas.

 

Mas o destino com que me confronto

É um caminho sem rumo apagado

Onde se fecharam as janelas.

 

Mas alguma coisa acontece

Quando eu busco esse caminho

Nessa casa abandonada;

 

O destino em mim resplandece,

Não me sinto mais sozinho

E até enxergo melhor a estrada.

 

As andorinhas partiram em debandada.

Portas e janelas se fecharam

Em busca da minha liberdade.

 

O que fica da minha vida é o nada

De tantas vidas que se passaram

E o meu destino é a saudade.

 

As andorinhas vão em busca da vida,

Enquanto eu espero a morte

Neste alpendre abandonado;

 

O destino já me deixou de guarida

Aguardando a derradeira sorte

Que o destino traz em seu chamado.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES

As Faces de Maya - Sinopse

 


AS FACES DE MAYA

Gênero: Romance

Tema: Romance/Esotérico/História/Religião/Filosofia

 

SINOPSE

As Faces de Maya é uma obra de ficção, baseada em fatos históricos e geográficos majoritariamente reais, cujos capítulos se estruturam de acordo com a Árvore da Vida cabalística, abordando temas relacionados com a História, a Filosofia e a Religião. A narrativa desenrola-se em torno de duas personagens principais, uma no passado e outra no presente, vivenciando experiências místicas e gnósticas, entre outros, em sete locais conhecidos como chacras planetários. Bryan é um bem-sucedido profissional do mercado editorial em Nova Iorque que recebe uma ligação proveniente de um parente seu em Portugal, dando-lhe a conhecer que seu tio Ernesto havia deixado de herança ao seu pai Constantino uma loja de antiguidades. Bryan viaja então a Lisboa para formalizar a cessão da herança; enquanto isso, recebe a notícia um projeto literário que o levará a viajar por alguns países para uma pesquisa editorial a pedido de um cliente. Ao mergulhar nos livros e materiais deixados pelo seu tio Ernesto, percebe um imenso conteúdo histórico de manuscritos antigos com textos relacionados à Gnose e a diversas religiões e se decide a conhecer alguns dos locais narrados pelo seu tio, um engenheiro civil que viajou a trabalho por várias regiões do planeta, tendo colhido impressões e experiências em diversos campos do conhecimento. Essas viagens constituem para Bryan, como o foram para o seu tio Ernesto, uma digressão no plano espiritual que o levará a um autoconhecimento profundo de si e à percepção de que tudo se interliga no passado e no presente em permanente evolução espiritual.


MARIANO MENDONÇA LOPES

sábado, 7 de outubro de 2023

Poema - O amor é ardente e desigual

 

O amor é ardente e desigual,

Viceja como dúvida flamejante

Que soçobra a cada instante

Para renascer em sopro sensual.

 

E, por se amar assim presente,

Não se tem hora ou destino,

Amar é como se fosse sopro divino,

Deseja-se como vontade da mente.

 

Incendeia vidas por onde passa,

Almeja fados impensados.

O amor é a chama sem fumaça

 

Que brilha no firmamento,

Que nos deixa sempre renovados

Por existir em qualquer momento.

 

MARIANO MENDONÇA LOPES


domingo, 1 de outubro de 2023

Poema - Deusa

  Deusa

 

Deixo-me fluir pelas tuas curvas,

Pela tua boca sedutora,

Pelo teu olhar infiel.

Perco-me em mil e uma loucuras,

Dessa Deusa devoradora,

Desse teu cheiro de mel.

 

O teu nome é Karina

Mas bem poderia ser Vênus

Ou outra Deusa do Amor.

Em teu corpo, tudo me fascina,

Teus lábios são puros devaneios,

A tua presença me traz o fulgor.

 

Teu me cativas por todos os meios,

Eu sou um mero cativo teu,

Rendido a essa paixão arrebatadora

Quando contemplo os teus seios,

Um amor que na vida só cresceu,

Um vício por ti que me devora.


Tu és em mim uma intensa paixão de existir,

A Deusa que me fez ressurgir....


MARIANO MENDONÇA LOPES

 

domingo, 24 de setembro de 2023

Poema - Margens dum Mar Menor

 MARGENS DUM MAR MENOR

 

O meu imenso oceano

É um rio com margens estreitas

Como as pulsações dum mesmo povo.

 

O meu oceano é um rio lusitano

Em cujas margens se fala português,

Feito de águas passadas, corrente de futuro.

 

O meu oceano é um mar de História,

Navega-se impressões oceânicas de dor,

Mergulha-se maresias de compreensão,

 

Parece que é tudo ondas de sabedoria,

Riachos de acontecimentos já muito vividos

Em profundezas abissais de mútuas desconfianças.

 

O meu oceano é um mar interior,

Inteiramente fechado pela alegria do povo

Que nele circula com o saber e a devoção

 

De transportar História, riquezas, vida,

Transportando contudo a incompreensão

De quem não soube pesar as caravelas,

 

De quem não soube contar os escravos

Ou as largas pepitas de ouro

Ou as madeiras exóticas da floresta

 

Ou ainda a cultura e os monumentos,

Os homens, as mulheres e as crianças

Que são a água e são a vida deste rio.

 

O meu oceano é um rio imenso de vida,

Soberano nas decisões, no presente e no futuro.

Mas continua a ser o mesmo rio

 

Em cujas margens se inventou uma nova era,

Em cujas águas se navegou o destino,

Em cujo sal se chorou o mundo.


MARIANO MENDONÇA LOPES

[Do meu livro, Peregrinações]