A minha vida é um cais de
eternas partidas, amizades ausentes que se despedem na flor da alegria e da
descoberta, rostos que se esvaem quando figura neles um olhar de esperança, de
amor quiçá; a minha vida é um rosto vencido na multidão, o mundo passa e eu me
afasto, parece que tudo vai, que tudo sai, que tudo cai. A minha vida tem um
quê de rocambolesco; tudo acontece dentro de uma determinada linha, contudo
nada acontece que possa sair, se imiscuir da mundanidade, aviltada condição de
ser igual a todos os outros e, contudo, não se parecer com nenhum. Vejo a luz
ao fundo, mas não vejo o túnel. E olho, como se procurasse a máscara para me
fazer de personagem, como se buscasse o retrato para fazer a pose, como se
atirasse o barro sonhando encontrar a parede. Parece que os polos se
inverteram, parece que os papeis se inverteram, parece que tudo caiu ou então
se ausentou para parte incerta. E vejo, como nos demais capítulos da minha
vida, um final infeliz, feito de contrastes, feito de um não sei o quê de ganhar
o mundo e me perder de amores, de encher o mundo e me acabar sozinho por becos
e vielas, travessas e travessuras, acabado no porto, aeroporto ou eu sei lá o
quê. Como todo o navio que parte, a minha vida é um cais de despedidas e
partidos corações.
MARIANO MENDONÇA LOPES [Texto extraído da minha obra, Impressões do Mar]