A Costa dos Esqueletos
estende-se por aproximadamente mil quilômetros entre o sul de Angola e o norte
da África do Sul, entre os rios Cunene ainda em Angola e o Rio Swakop, na
Namíbia. Deve o seu nome não só aos imensos esqueletos de navios que soçobraram
em tão medonha parte do mundo, como também aos diversos pescadores que se
aventuraram, afoita e insanamente, e às tripulações perdidas e estraçalhadas
após os naufrágios. A costa caracteriza-se essencialmente por ser móvel e em
permanente deslocamento. As dunas sucedem-se na costa e afundam no oceano,
erguem-se do leito atlântico penetrando a orla, em permanente construção e
destruição. Onde hoje é praia, amanhã o oceano vai resgatar a sua parte. Onde
hoje o navio ancora, amanhã poderá amanhecer em plenas dunas, cercado por um
areal imenso onde o olhar morre e o pesadelo ainda nem começou; ladeado pela
morte e pelos nevoeiros tenebrosos, os chamados cassimbos pela população nativa, resultado do ressurgimento da
corrente fria de Benguela que assola em boa parte do ano. Já em terrenos
transfronteiriços, é propriedade privada, dos olhares e da cobiça, por se
tratar de área de produção de diamantes, tão abundantes que se poderia
construir um castelo na areia e sentir aflorando nos dedos a pontiaguda riqueza
dos diamantes brutos. Não tão brutos, porém, quanto o cano da arma que silencia
a intrepidez alheia de quem ousar enxergar, que dirá então penetrar, tão
agourenta propriedade para cobiçar o que seu não é.
MARIANO MENDONÇA LOPES
[Extraído da minha obra, As Faces de Maya]
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