quinta-feira, 4 de julho de 2019

Prosa


“Ouço a tua voz e a minha alma se exulta; os meus passos seguem o teu olhar, a expressão do teu rosto, as marcas da tua felicidade que se identificam com a minha vida, com o meu presente. Delicio-me ao pensar que o tempo nos achou num acaso da vida, numa esquina do mundo, caminhando os passos perdidos dos outros e que em nós fizeram sentido. E que tudo o mais foi um recordar de tempos passados, antevendo tempos futuros e que o nosso sentimento nos possui, nos arrebata, e nos constrói. Vivemos pelo tempo num momento sem fim, até ao fim dos tempos sem passado nem futuro, apenas o existir no instante, apenas o hoje, sem limites, sem imposições, sem negações. Nunca haverá distância neste mundo para apartar os nossos sentimentos e o que sentimos um pelo outro. Somos o que queremos ser, e assim seremos até nos reencontrarmos, como Pedro e Inez, numa qualquer vereda da vida, alimentados pelo desejo do reencontro, vivificados pelos olhares singelos que trocamos e que são um acervo de felicidade, um álbum de momentos únicos”.

 
Não vive um amor que é só. Compartilhar a grandeza do universo traz à alma a dimensão gigantesca do que há à nossa volta e deve ser comungado com outros para que frutifique, para que se expanda. A alegria da vida é a alegria do amor que surge e ressurge em cada um de nós trazendo a dimensão exata das coisas que desejamos, das viagens que fazemos, das experiências que vivemos, e que repartimos com aquele que se corresponde com a nossa imagem do mundo, com o nosso diálogo com o Real, com as fantasias que nos alimentam e nos movem pelos espaços, como se fossem universos de felicidade no nosso pequeno mundo. Não é nosso um amor que se quer nosso, porque o amor não se tem por objeto de posse, pois que possuí-lo não poderemos nunca. O amor é um estado da alma, uma transcendência do destino que se manifesta em nós, mas que existe à revelia da nossa propriedade, e que desponta nos nossos sentidos, revelando-se muito além das nossas condições físicas de posse.


MARIANO MENDONÇA LOPES
[Extraído da minha obra, As Faces de Maya]

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