quinta-feira, 25 de julho de 2019

Poema - Tu és o outro lado de mim

Tu és o outro lado de mim,
O lado selvagem que me domina,
Um ser tudo e mergulhar vazio

Nascer selvagem e, assim,
Ter inconsciência do lado oculto da rotina
Que acaba inconsciente de desafio.
 
Tu és eu ser outro lado mais
Quando há impercepção de existir,
Fugir dum lado e acabar por sentir
O covil enclausurado dos animais.
 
Quando estás em mim e eu não sei,
Descortino logo essa tua lembrança,
Ser eu como parto, como outra criança,
E nascer de ti pelos lábios que decifrei.

És o lado oculto que me fascina
Quando descubro que me és imaginação,
Ser para ti uma evocação que se ensina
E é docente o sábio por vocação.

Tu és eu estar em todo o lado
O passado que me guia no escuro,
Passo a passo, um candelabro de vidas,

O passo da história é um passo apagado,
O outro lado do passado é o futuro
Numa cortina de memórias refletidas.
 
És o meu hiper-espaço nesta dimensão,
O não-ser que existe e pensa
No saber está sempre a maior recompensa
Que o achado traz por bem à razão.
 
Tu és sempre eu ser de modo diferente,
Assim vivo, assim penso e vou seguindo.
No dia a dia, uma impressão indulgente
Sorrir em mim como o sol que vou descobrindo.

Faz de mim instrumento da minha vontade
Como eu acabaria sempre por encontrar
Na paisagem sedutora o último luar
Trazido nos ombros pela via da universalidade.


MARIANO MENDONÇA LOPES 
[Poema extraído da minha obra, Impressões do Mar]

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